Era uma manhã, que parecia ser igual a tantas outras, na vida daquelas pessoas tão simples.
O céu começava a se colorir com os primeiros raios de sol. As folhas ainda mantinham aquelas, agora, tão brilhantes gotas de orvalho. Pareciam diamantes quando os raios de sol se infiltrando por entre as árvores, lhes emprestavam um pouco do seu brilho.
Tudo estava, como deveria estar até hoje.
O sol nascendo lindo, as árvores brilhando, a brisa matinal fazendo com que os verdes campos balançassem, como que numa delicada dança.
Os pássaros cantando, as borboletas voando por entre as flores campestres que começavam a desabrochar... Tudo igual...
Até mesmo aquela linda garota, na flor dos seus dezoito anos, continuava a mesma. Apesar da sua beleza estar escondida debaixo daquelas roupas imensas, daquele lenço escondendo seus cabelos, daquele chapéu que sombreavam seu rosto, ele percebia que ela era linda.
E Deus traçou seus destinos quando seus olhos se encontraram...
Ele encontrou toda doçura naqueles olhos cor de mel... ela se perdeu nos dele, de uma cor indefinida... parecia verde, mas...talvez fosse o reflexo dos campos...não tinha certeza. Apenas sentia que sua vida mudava a partir daquele momento.
E eles se casaram. Numa cerimonia simples como sempre foi suas vidas. E numa noite qualquer perdida a tantos e tantos anos, ele a fez mulher.
Talvez quando tomou-a nos braços naquela primeira vez, quis fazer-lhe juras de amor, dar-lhe o mundo, fazê-la feliz... Mas não disse nada... Nunca na vida ouvira algo que se pudesse comparar com o que tinha vontade de dizer... E se reprimiu.
Mas ela se sentiu feliz. Estava orgulhosa por estar nos braços daquele homem tão lindo, e mais ainda em saber que este homem agora era seu marido.
E o tempo tratou de fazer cumprir seus destinos. Tiveram suas filhas. Seis ao todo. Uma não por muito tempo. Mas para compensar essa perda, tiveram um filho ... lindo. Talvez ele tenha pensado, {_ é a continuação de mim ! } Seu sonho havia se realizado.
Mas a vida não era tão linda como antes. Tudo estava se tornando mais difícil agora com tantos filhos para criar. Ela não podia mais acompanha-lo ao campo, com aquelas crianças todas. Já não era mais aquela jovem bonita e cheia de vida, e sim uma mulher de pouco mais de quarenta anos,.. agora esperando seu oitavo bebê. Talvez o desespero tenha se abatido sobre eles. Começaram as brigas. E o oitavo bebê era mais uma menina... Uma garota que não conheceu aquele casal bonito, num tempo lindo.
Só percebia o amor se escondendo atrás do ódio que crescia entre eles cada dia mais. Se agrediam com palavras quase que o tempo todo. E a menina crescia tentando entender o porque. Porque duas pessoas casam se odiando tanto, e passam uma vida inteira juntos.
Então ela começou a prestar mais atenção nas palavras perdidas entre uma conversa e outra, e entendeu...
Existiu a mais de meio século, um homem e uma mulher que se conheceram, se amaram e se casaram num tempo lindo. Mas quis o destino, as dificuldades da vida, o ciumes talvez dos próprios filhos, a falta de tempo de um para o outro, que reprimissem esse amor, fazendo com que o ódio pelo sistema, pelo destino ou por qualquer outra coisa fosse confundido com ódio de um pelo outro.
Mas um dia eles se amaram...
Num tempo distante, quando os primeiros raios de sol coloriam as manhãs... quando as gotas de orvalho se transformavam em diamantes, os pássaros cantavam, as borboletas voavam... quando apenas eles pareciam existir naquele dia lindo... eles se amaram...
C.B. 06/01/1989...9:38h.
