domingo, 13 de abril de 2014

Antes que minha mente se apague



Antes que minha mente se apague, antes que minhas memórias me deixem, antes que eu me perca dentro de mim mesma, num mundo desconhecido de todos, incompreensível para muitos, sinto dentro de minha alma uma necessidade imensa de recordar tudo que vivi, todos os sonhos que sonhei, todos os amores que vivi, as alegrias que tive, as lágrimas que derramei. As imagens passam como um filme em uma imensa tela, e eu não querendo que esse filme termine, porque sei que com as ultimas imagens que verei, também terá uma triste palavra, fim... fim de uma vida ativa, de conversas jogadas fora, fim das poesias que sempre gostei de escrever, fim dos planos que achei que realizaria um dia... a luz vai se apagar, verei rostos desconhecidos, lugares que nunca vi, tentarei viver das lembranças, mas lembranças num tempo errado. Não perceberei que já passaram, que só eu vivo por elas, procurarei pelas pessoas amadas que conheci na minha juventude, depois na minha infância... talvez muitas delas ainda façam parte da minha vida nesse momento, mas não as conheço mais... não são como me lembrava, dizem quem são... mas busco lá no fundo da minha memoria e não as reconheço, me sinto sozinha, abandonada... parece que todos se foram, porque não encontro os rostos amigos que eu tinha  ? Então me calo, porque quando falo, as palavras que quero dizer, não fazem sentido para ninguém. Me olham como louca, concordam com coisas só para não me contrariar. Tento comer, mas não sei pedir, me colocam boca adentro um alimento que não quero,  me banham como se eu não pudesse fazer isso sozinha mais, não percebem que me sinto constrangida, que meu coração grita palavras que não saem da minha boca. Porque não falo mais ?, Porque não me ouvem ? Será que não me entendem ? Estou gritando o que quero, mas não fazem nenhum movimento para me ajudar. Não é agora que quero dormir, quero participar da conversa que estão tendo, mas me olham como um pedaço de carne que está se estragando e incomodando, fazendo coisas que os deixam envergonhados. É melhor dar um remédio que eu não quero, porque vai me levar mais longe das minhas lembranças, mas que vai me fazer dormir e não atrapalhar. Pronto já fizemos tudo que podíamos, estamos com a consciência tranquila, ela está bem cuidada. Limpa, alimentada, tomou todos os remédios, só resta ficar quietinha na cama agora, não tem mais nada que possamos fazer por ela. Então procuro meu marido, aquele que jurou no altar estar ao meu lado até que a morte nos separasse, e ele não está, eu o vejo de vez em quando brincando com meus bebes, e tento falar alguma coisa, mas eles desaparecem de repente. Então procuro minha mãe, ela cuida tão bem de mim, penteia meus cabelos e me leva na escola, meus amiguinhos  estão sempre lá. Acho que vou brincar... mas eu não consigo brincar, nem andar eu sei... não aprendi a falar ainda... preciso de colo... quem vai me dar colo ? Ninguém vai me ensinar nada ? Eu estou com fome, estou com frio, estou molhada, eu não gosto dessa comida que me dão... não consigo engolir... é uma papa muito ruim... quero dormir agora... para não acordar nunca mais... Não tenho mais nenhuma lembrança... eu ainda nem nasci...



12/04/2014 22:00 horas

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